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O martelo e a bigorna

Brasil, mas que bandeira é essa?
Rivamar Guedes

Embora tenha tido sua importância minimizada depois da dissolução do bloco comunista, a tese de Karl Marx que afirma ser o Estado apenas o escritório da burguesia continua mais presente do que nunca; Estado que busca reproduzir sua maneira de pensar através de mecanismos ideológicos institucionalizados, valendo-se de símbolos que dão a impressão de unidade política e social. Um desses símbolos é a bandeira nacional – no Brasil, a cada quatro anos retirada do guarda-roupa pelos patrícios, cheirando a uma mistura de mofo e naftalina, sonhos e esperanças.
Em ano de copa do mundo o povo brasileiro faz aflorar um chauvinismo grosseiro, com data para começar e para terminar. O orgulho nacional é estandardizado por uma bandeira cuja referência vincula-se diretamente a uma elite política e econômica, camuflada pela utópica idéia positivista de ordem e progresso. O país que se veste de verde e amarelo não sabe que, na bandeira, essas cores fazem referência à casa real de Bragança, da qual fazia parte o imperador
D. Pedro I, e à casa imperial dos Habsburgos, à qual pertencia a imperatriz D. Leopoldina, à mesma època em que a moda social, cultural e politica no país era uma espécie de positivismo à brasileira.
Por exemplo, em nossa bandeira a estampa positivista da ordem na realidade mostrou-se incapaz de contemplar no novo sistema social a figura do negro, personagem que um ano antes da proclamação da República foi finalmente libertado da condição de mercadoria, mas que em nossa sociedade nunca deixou de ser tido como coisa. E que bandeira é essa cuja idéia de progresso nunca deixou de ser um porvir, num país em que as práticas políticas continuam fossilizadas por uma herança cultural patrimonialista?
Tenho dito que nada melhor do que ser brasileiro em época de copa do mundo. A cada quatro anos o povo brasileiro se transforma em verde e amarelo, como um camaleão que busca se confundir na paisagem. Assim é o povo brasileiro, esperançoso e orientado segundo normas e significados culturais compartilhados.
Que essa bandeira estampada em nosso peito seja digna de uma leitura que vá além de uma simples admiração por nosso futebol, que ela finalmente represente a idéia de um país mais real e menos idílico. Um país que renuncie a condição de um sonho intenso, uma promessa de felicidade que ainda não se concretizou, um país que busque se emancipar de utopismos.
Que o Brasil deixe de ser para o brasileiro a realidade rançosa, uma hemorragia que nos fatiga e nos comprime ao mundo do ostracismo.
Imagens: Web

Parabéns, Riva. Sua estréia não poderia ser mais brilhante. A sua coluna está muito boa mesmo, voltarei a lê-lo sempre. beijo!

Show!!

Difícil, quando a sobrania é ferida, a ética aviltada, e as riquezas saqueadas.

A bandeira que vira griffe.

Cara você abordou a questão da hora. Noutro dia o senador Jefferson Peres do Amazonas lamentava que o povo brasileiro tenha energias para se mobilizar para a Copa do Mundo e não demonstre a mesma disposição para reagir "à corrupção e aos desmandos que infelicitam o país."

Um abraço

Lamentável, pois um país que não cuida dos seus símbolos não cuida do seu povo.

Riva,

Boa reflexão! É o “mata-mata” (não o do gramado), mas o da consciência cidadã...

Bjs

Excelente começo, companheiro. Com certeza será muito prazeroso tê-lo como parceiro de miolo!
Beijos

Infelizmente caminhamos para o caos em coro com as republiquetas da América.

Acho que não ceberia tudo numa bandeira só.

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