26 janeiro, 2007

REBENTO








REBENTO

Quero seu colo filho
Você me pariu mãe
Agora agüente!
Alimenta-me das suas risadas
Faça mainha para divertir meus soluços
Me sinta árvore dos seus pousos
Entre os vôos, me saiba no vento


Quero afinar minha voz as batidas do seu coração
Enquanto dedilha seu violão de anseios
Nada preciso tanto se já te tenho, mas.....
Brinca comigo
Conta seu dia
Diz quando eu encher seu saco
Que eu paro


E não esquece
De agasalho nas noites frias
De comer direitinho
De dormir bastante
De amar o quanto lhe couber
De rezar para seu anjo da guarda
De mim
(para meu filho Cauã )

* Aprender é uma experiência motivante, mas saber pelos filhos é também encantador. Tive o privilégio de tirar férias de mim e estar , simplesmente estar com meu pequeno gigante por esses dias. Por alguns momentos reencontrei-me com a menina maluquinha de 12 anos que deixei numa estação........nós brincamos muito...os três...e divertir-se é uma experiência divina, cuja única regra é simplesmente estar de verdade ali na brincadeira...esvaziar a mente doida de obrigações e pensamentos impostores e apenas olhar, sentir, tocar, entender a eternidade de cada suspiro.......Obrigada meu menino lindo por você existir e me levar à margem deste rio de ilusões, para ve rum outro ângulo do por do sol.......te amo
Obrigada também a vocês que brincam comigo aqui neste espaço! Queridos me antecipo na postagem pois estarei sem net nesse final final de semana...beijos à todos

19 janeiro, 2007

A BESTA DA TARDE














www.olhares.com.br


Era ela ou eu, estatelada justo sobre o elefante vermelho da colcha da sorte, que hoje parecia estanque de possibilidades? Qual das duas virava suco, de saliva de vontades reprimidas, enquanto as lágrimas, fartas de darem o ar da graça, apenas descansavam? Sim, como diz o sábio mestre DeRose ( um ser, um mestre que é sumidade no universo do Yôga, que resgatou corajosamente o Yôga mais antigo, pré-clássico o Swásthya ) “É difícil fazer as coisas parecem fáceis”, mas esse é o único caminho e eu queria ser como ele diz que devíamos ser..”.como águas dos riachos, que tranquilamente, contornam os obstáculos”, mas confesso que gastava aqueles segundos tentando eleger culpados, e preferia que ela, a raiva, confessasse tolher minha generosidade para com certas realidades. Tinhosa como o quê, dona raiva fez de tudo para dividir as responsabilidades daquela tarde histérica comigo.

Eu acabava de abandonar um caso de amor, um projeto artístico, que na partilha de bens ficara com grande parte do meu coração – o meu pai, filho e espírito santo. Era só um tempo, não um rompimento, mais doía igual. O motivo da separação é moda. Incompatibilidade de agendas. Eu tinha que conciliar trabalho, dinheiro e tempo, todos ítens em falta na minha geladeira de mãe e na da minha mãe também. E o projeto, claro tinha que seguir. Tá bom! Eu divido a culpa da relação ter desembocado nessa encruzilhada, mas o que adianta assinar termo de responsabilidade? Sim! eu provavelmente fiz escolhas apressadas na vida e de outras certamente fui refém, mas como despedir-me ou apenas me adiar do encontro com o que me faz pulsar? É isso então que chamam maturidade? Escolher aquilo que não se quer? Pois eu passo. Eu e minha raiva, porque ela só quer expurgar a chutes e pontapés a sua dor de impossibilidades e eu quero dar um jeito qualquer de pagar todo o preço do passaporte para os lugares meus. Nós fugimos de ser apenas uma sobra de ausências, mas naquela tarde de chuva , sem bolinhos de vó, era EXATAMENTE SÓ .........só isso que éramos.

Debaixo da quentura calmante daquele torpor, somente a certeza de ser mais uma entre milhares de operários da arte a sofrer as agruras do ofício salvou-me de ser outra reclamante inútil. Sempre haverá uma semente perdida para alimentar um passarinho que não deixa de voar.....pensei e quis acreditar que assim é, ainda que seja no céu do Brasil, aonde política cultural é quase uma piada sem graça e o mau agouro, que envolve o tema, parece vir de longe – o teatro tupiniquim, por exemplo, nos primeiros tempos foi usado para oprimir os índios na catequese, tendo como principal dramaturgo José de Anchieta- ainda bem que na essência sensorial e mitológica, teatro era um ritual à baco (Deus do vinho) finalidade de origem convenhamos bem mais simpática ....

Apesar de saber que não há limites para o querer, e de sentir o mundo girar sob os meus pés, num movimento perpétuo de renovação- e eu estarei de novo com aquelas gentes e aquela arte do stúdio Fátima Toledo - estou triste pela necessidade de interromper um projeto integrante da minha formação de atriz, parte de uma verdadeira peregrinação na busca pelo conhecimento tão pouco valorizado e geralmente preterido por banalidades mercadológicas. Sempre suspeitei que dar um tempo é perigoso demais em qualquer relação, mas viver é expor-se ao risco, a todos e por outro lado "Amores serão sempre amáveis" Chico Buarque.

Depois, a noite caíu-me como uma luva, clareou as idéias e então ninei minha raiva ao na bela melodia de frejat, que reinventa os ecos de Raul Seixas e as porralouquices mais doces como...”basta ser sincero e desejar profundo/ você é capaz de mudar o mundo....” (aliás raros leitores, peço ajuda porque para ser sincera tenho dúvidas sobre quem compôs tal canção e perdi a capa do CD, além do que não há tempo de pesquisar agora, vou valer-me então da licença subjetiva que este tipo de texto tem, bem ao contrário do jornalismo, no qual estive amarrada por tempo demais creio)


Desperta do pesadelo vespertino, fui tirar o pó do fundo dos olhos, quando de frente ao espelho lembrei de Manoel Bandeira e da sua “ternura dentuça”, que tirou poesia até da tuberculose. Este artista pernambucano arretado completaria 120 anos, não tivesse ido “embora pra Pasárgada” quando tinha 82. Justas homenagens serão prestadas à este talento modernista, que a despeito de todas as adversidades voou alto enquanto declarava sutilezas feito: ........”Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples” (poema Belo Belo) .....ainda pensado em Manuel olhei para as estrelas e mentalizei vários pedidos de enxergar as estradas que levam aos meus caminhos e enfim consolei-me no verso...”mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?”(A morte absoluta)...

Aproveito o tema homenagem para saudar todos os artistas brasileiros, especialmente meus colegas atores e atrizes, grandes mestres inspiradores, que na sina de largarem de si para serem instrumento da coletividade matam suas fomes apenas com a vontade.

* A edição de janeiro da revista Bravo lembra Bandeira e indica lançamentos do aniversário do poeta....vale a pena.....



Carol Montone é jornalista, atriz e colunista do Miolo-de-Pote aos sábados

15 janeiro, 2007

Darklands - Por Pablo Capistrano

www.pablocapistrano.com.br

Esse ano eu faço 33. Pois então... aos 33 eu começo a perceber que andei perdendo tempo com algumas coisas inúteis. Que andei me preocupando com alguns problemas banais, criando algumas expeditivas falsas e que comprei um monte de CDs ruins (ou baixei muita coisa duvidosa esses últimos tempos da INTERNET) apenas para estar “atualizado”. Daí essa sensação de que eu preciso recuperar certas coisas que abandonei em alguma esquina dessas da minha própria vida. Retomar certas pérolas lançadas na estrada. Acertar as contas com o que passou porque, como afirma o Rabi Eliezer “arrepende-se um dia antes da tua morte”; para que o resto da eternidade você não tenha seu nome gravado à fogo no SPC da vida. Então ando meio interessado em recolher aquilo que um dia eu já tive, mas que, por displicência ou por falsos juízos de valor acabei perdendo. Darklands foi assim.
Eu já tive esse LP. Comprei em algum sebo por volta de 1989 ou 1992, não lembro bem. Eu já tinha numa K7 (para quem não sabe o que é, trata-se de um rolo de fita magnética que a rapaziada usava como uma espécie primitiva de IPOD) o Psychocandy o primeiro álbum do Jesus and The Mary Chain, uma banda cujo núcleo era formada por dois irmãos ingleses, Willian e Jimi Reid. A minha fita cassete rodou quase dois meses num aparelho de som “três em um” que eu tinha no quarto e a distorção era inevitável. O primeiro disco do J&MC era muito barulhento. Saído de um dos joelhos da banda novaiorquina Velvet Underground (1965-1970), o som explorava a distorção e os agudos altos das guitarras, com baterias secas e melodias vocais lentas e melancólicas. Tudo no melhor estilo dos oitenta e de sua escuridão contida e selvagem. Mas, quando eu cheguei em casa para ouvir o Darklands na vitrola, me assustei. O disco era bem diferente. Mas limpo, mas melódico, mas fácil de ser compreendido. Uma espécie de Beach Boys do mal. Na época eu não vivia clima para as facilidades. Queria coisas difíceis e desconcertantes, queria que um jato certeiro de distorção atravessasse a minha vida, cortando-a ao meio, explodindo seu centro e espalhando seus pedaços pela linha do horizonte. Talvez por isso tenha deixado Darklands meio de lado e passado boa parte do resto da minha vida atrás do Psychocandy que eu tinha gravado no tal rolo de fita magnética que a turma usava como IPOD. Acabei perdendo meus LPs em alguma festas dessas, entre o ano de 1989 e 1995, e a tal fita cassete acabou enrolando no gravador de modo que eu tive que parti-la em três pedaços (esse era um dos problemas de ser adolescente na era pré-IPOD).
O fato é que eu nunca consegui o disco. Até essa semana, um mês antes de completar 33 anos. Veja bem, completar 33 anos é marcante. Faz você pensar em todas aquelas baboseiras que eu disse no começo do artigo, então, quando eu vejo na prateleira da Velvet Discos, juntinhos, Psychocandy e Darklands eu pensei rapidinho nas palavras do Rabi Eliezer: “arrepende-te um dia antes da tua morte”. Comprei os dois. No carro, fiquei um tempo na dúvida de qual deles ouviria primeiro. Não sei porque escolhi Darklands: “and we tried so hard/ and we looked so good/ and we lived our lives in black/ but something about you felt like pain/ you were my sunny day rain/ you were the clouds in the sky/ you were the darkest sky/ but your lips spoke gold and honey/ that´s why I´m happy when it rains”. Era a faixa três. Happy when it rains. A música da propaganda de automóveis. Quem imaginaria, em 1992, que eu iria passar o resto da semana encantado por uma música de propaganda de automóveis! 33 anos é uma ótima oportunidade para você se arrepender das coisas que perdeu. Quando o Rabi Eliezer disse o que disse um aluno esperto interpelou: “mas como podemos saber o dia de nossa morte para nos arrependermos um dia antes?”. O rabi sorriu e respondeu: “é justamente por isso que você deve se arrepender todos os dias”. Pois é amigo velho, There´s something warm about the rain.

13 janeiro, 2007

Poemando




















CANTIGA DE NINAR

Queria morrer de rir de mim sempre e por fim
E assim pudesse ser com todos

Morreria de rir da felicidade de ter amado quem amei
E ainda daqueles grãos de areia, que vizinhos ao meu nariz eram montanhas assombrosas

A morte pode ser igual calmaria de colo de vó se a gente acreditar que é
Pode ser chá quente em noite de trovão
Ah se ela pudesse ser até um tanto bonita
Poente ......


Chegasse ela de mansinho, com pressa de velha, eu faria amizade
Se me convencesse em silêncio que não preciso temer outras aventuras, sorriria curiosa
Largaria meu corpo qual sorvete derretendo no sol


Queria que ela matasse as saudades das belezas da minha vida toda num instante
E me ninasse longe do susto dos soluços de todos os meus tempos

Ela me prometeria a vida eterna
E a companhia de quem me deixou antes do tempo
Ah se eu pudesse não saber que da morte infelizmente nada se pode querer
Apenas esperar......

Por Carol Montone

Em tempo: Sabernos transitórios é tão assustador quanto fascinante. Com a crença de que a vida é um breve presente, sempre procurei viver o hoje como se fosse único e último. O futuro é um tempo que não existe para mim e isso é bom pois minha morte- se o universo permitir - está num futuro distante (risos) e éruim na medida em que não crer em bençãos anunciadas para depois também me causa ansiedade da obrigação de fazer do agora minha tábua de salvação. O mais triste deve ser quem morre para seus sonhos em vida. Você já cogitou, como eu, que o tempo pode ser mesmo inventado, assim como pode ser a morte que conhecemos, se pensarmos melhor...mas o que deve importar é que todo dia ao acordar nascemos de novo para sermos felizes, melhores do que fomos dormir e imaginar coisas boas, emanar energias de amor e paz e acreditar que é possível que mesmo as coisas mais terríveis, como a morte, sejam apenas uma parte engraçada da aventura. Se não nos é permitida a eternidade- para nossa pena ou sorte? - façamos então de cada momento experimentado, uma vida eterna.

06 janeiro, 2007

TEMPO, TEMPO, TEMPO, TEMPO



Foto de Ricardo Zerrenner (www.olhares .com.br)





Todo início é de um certo medo. Estou sem tempo e aturdida com uma mudança de fuso horário, digamos assim. Minha casa e minha vida começam este ano de cabeça para baixo, como uma mala cheia de roupas sujas misturadas a outras intactas, a minha espera. Chego de viagem e tenho o texto do Miolo para postar. Trata-se da primeira missiva do ano para vocês meus caros-raros leitores, afetos desconhecidos e instigantes, o que significa uma missão e tanto. Dadas as circunstâncias, a única solução - tão rápida quanto necessária – é entregar-me corajosamente aos verbos triviais de um recomeço para dizer deste outro janeiro, mês propício para faxina na alma e no armário, época aonde a rigidez dos capricornianos atormenta as férias . Se você conhece um capricorniano sabe que esse signo é sinônimo de planejamento. Os nascidos nesse espaço do zodíaco costumam inclusive projetar coisas inverossímeis, mas sempre dentro dos seus próprios parâmetros de risco e benefícios, mas tudo bem...qual de nós pode atirar a primeira pedra.... então salve especialmente todos os nascidos em janeiro e salve o ano novo!!!!!

Queria ser como Dom Quixote, para quem a batalha era também seu descanso, mas confesso que me assustam tantas providências internas e externas para pelo menos tentar fazer o mínimo possível, em prol daquilo que almejo para esse novo calendário. Estive em companhia de uma criatura ímpar nos últimos dias, minha irmã e escritora Mônica Montone (http://www.finaflormonicamontone.blogspot.com/) na cidade maravilhosa, que apesar dos inimigos do reino continua a ser o Rio de Janeiro de sempre....lindo. Mô é aliás a paulista mais carioca que conheço, juntamente com a trupe seu Januário e Izildinha. Entre uma caminhada e outra , um chá, vinho tinto e água salgada, falávamos que hoje as pessoas correm tanto contra o tempo que é quase uma heresia falar apenas da vida num começo de ano...das imbecilidades e delícias vitais ...os assuntos certos são projetos e resoluções a curto prazo. Entra ano e sai ano e esse tipo de obsessão faz com que não nos olhemos nos olhos e pra que tanto sucesso sem reciprocidade????

Eu também tenho minhas empreitadas, mas venho aprendendo com os cariocas que relaxar é preciso....assim como "navegar"...(claro). Apesar do caos, que essa cidade brasileira representa como nenhuma outra, as ruas de lá conservam um jeito brejeiro. São como meninas sapecas ...lá a violência, por mais que tente, ainda não conseguiu matar a alegria de um povo que é carnavalesco de nascença. Acho isso bonito.

De votla ao meu berço paulista, que honro e amo, queria iniciar 2007 sem querer tanto, como ensina a filosofia budista. Parece claro que as expectativas são fontes de sofrimento, mas como ainda não atingi esse patamar de coerência...quero unicamente não parar de sonhar, haja o que houver, porque afinal isso seria morrer...” A vida é sonho e os sonhos sonhos são” Shakespeare. Meu maior medo é esse....viver só da realidade ... Quero sonhar e crer que pessoas inocentes não morrerão mais queimadas ao tentar usar um trasnporte coletivo para ir e vir neste mundo do absurdo em que vivemos. Esse também é meu voto de felicidade para você leitor do Miolo, desejo que nada te faça parar de acreditar na possibilidade.......

Por fim, penso ser a paciência uma qualidade essencial nos anos pares e ímpares. Não à toa a palavra deriva em latim dos termos sofrer e resistir. Como é difícil conviver com tudo aquilo que nos aflige...então...que busquemos, cada um à sua maneira, formas de desenvolver esse ofício de ser paciente, principalmente conosco.
Pablo Picasso costumava declarar que não o importava nada do que tinha feito, mas sim o que devia fazer. Radical ele - opino - pois no passado também há força de referência para realizar o futuro. Quem de nós, entretanto pode contentar-se com o que viveu, mesmo que seja saudade?? Pois que venha 2007!!!! Um grande beijo à todos e votos de que o Miolo continue remando com força total, mesmo diante de tempestades anunciadas .......
PS: Euza querida...eu quero você aqui conosco. Por essas e outras, que daria tudo por um varinha mágica de condão que me fizesse fada de todos os meus mais loucos desejos .....


Carol Montone é jornalista e atriz e colunista do Miolo-de– Pote aos sábados