Por Carol Montone
Todos nós temos ao menos um anjo ao redor, cujo brilho é tão forte que nos faz menos cegos. Temos muitos em verdade, mas somos feitos de olhos apressados para enxergar certos milagres. Curiosa que sou, notei logo as asas escondidas na roupa do meu avô, que infelizmente viajou para um mundo desconhecido, aonde não permitem visitas. Fiquei de sobreaviso desde então e pude notar que era rodeada de outros seres encantados. Com um pouco de dor aprendi que a gente nunca saberá quando eles chegarão tampouco quando seguirão viagem, daí a urgência de aproveitar essas companhias como se fossem as últimas bençãos vividas. A vida pode sim tirá-las de você por motivos nobres ou não, mas ninguém tirará o amor vivido. Nesses dias “ pé-natalinos” , tive pensando que essa parece ser a única razão realmente cabível para o mundo todo mobilizar-se em torno do dia 25 de dezembro. É piegas mas é um simples...Natal foi inventado para amarmos uns aos outros e dar graças pelos anjos que compartilham suas asas conosco. Claro que não seria necessário estipular data para tanto, mas nós humanóides somos muito “organizados”.
Essa semana um anjo chamado Joana Aparecida Salim, de olhos amendoados, mãos calejadas e uma abnegação gigante em relação aos prazeres da vida me deixou sem palavras natalinamente suficientes. Essa anja tem meio metro de altura e um problema neurológico que a traz muitas limitações. Munida destas, ela trabalha há quarenta anos - sem férias ou salário - na casa de uma família “cuidadora”, que ao mesmo tempo é sua única salvação e sua cruel algoz. Todos a amam, entre outras coisas talvez por conta daquele sorrisinho maroto e as vezes inconveniente, que escapa da boca pequenina enquanto suas mãos ágeis carpem jardins, lavam roupas, cuidam de bebês ou qualquer outra coisa útil para qualquer um. Eu queria presenteá-la não apenas por amor, mas por uma certa pena e era eu a coitada quem ganhou o seguinte e inestimável presente: entendi que esse ser tem paz de espírito e por isso se realiza naquilo que é e faz. Ela que quase nada tem além de muito trabalho e dificuldades de saúde me disse “eu não estou precisando de nada, use seu dinheiro para comprar algo para alguma criança, mas se você quiser mesmo me dar algo pode ser uma boneca vermelha”...me disse. Foi emocionante ver ali na minha frente um anjo em carne e osso, que encara a vida com a força silenciosa de um lenhador e guarda no coração a menina que nasceu para ninar eternamente sua boneca vermelha.
Apesar de toda a maratona consumista, das misérias e de todo o sofrimento que também enfeita o Natal das diferenças sociais de da pobreza de espírito (como bem lembrou minha nova amiga e “sensível” escritora colaboradora deste site, a Euza) , apesar dos nossos pobres anjos caídos, travestidos em meninos de rua “gente que é para brilhar e não para morrer de fome”, principalmente com tanto peru de Natal indo para o lixo por aí, mas apesar , apesar e apesar....Natal é uma época de milagres talvez porque muita gente, num repente, tenta conectar-se com a divindade do verbo amar. Não sou religiosa, mas creio que quem conta um conto aumenta um ponto e como jornalista aprendi que essa tal de objetividade factual é balela ou quase, portanto não acho que estamos todos aqui reúnidos para especular se Jesus casou ou não com Maria Madalena e nem nada similar. Também nunca consigo me atentar para datas e não tenho certeza se houve um nascimento , uma morte e uma ressurreição na ordem e jeitos que nos contaram, mas qualquer um sabe que tudo é milagre nessa vida. Jesus e todos os deuses, um dia nascendo, uma criança sorrindo, um casal dançando, eu você e um pé de alface, que como dizia meu vô era a obra de arte mais generosa da terra...”imagina quantas folhas tem um pé e quantas pessoas podem comer juntas ....”, ele dizia lembrando também da beleza das cebolas e outros milagres da natureza.
As bonecas vermelhas e a força para seguir em frente a despeito dos infortúnios pode vir de Papai Noel, não do bom velhinho de roupas de cetim, que não dá conta de chegar em quantas ???? casas, mas no papai noel que todos nós podemos encontrar disfarçado num abraço, sorriso ou num olhar de bem querer. Desejo que todos aqueles que sofrem na noite feliz possam pensar no papai noel como um símbolo de esperança de barbas brancas e essa não está à venda....está dentro de cada um.
Um grande beijo à todos e claro um Feliz Natal