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Gramática no cordel - Por Rosenval de Almeida



Há poucas gramática genuinamente diferenciadas.
Uma é aquela Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil, escrita pelo Padre Jose de Anchieta em tempos quinhentistas (1595), ainda nos primórdios da colonização lusitana nestas terras da América do Sul. Essa normatização da língua tupi tinha por fim iniciar os catequizadores da Companhia de Jesus no idioma indígena mais falado no litoral brasileiro. Pois, só assim, os padres-mestres poderiam lograr êxito na missão de cristianização da gente nativa de Pindorama.
Uma outra gramática é, seguramente, a obra Gramática no cordel, escrita pelo professor-poeta Janduhi Dantas. Trata-se de um jeito novo de se fazer arte de gramática. O autor, com o seu talento professoral e como seu gosto apurado pela poética do cordel, faz uso magistral da melodia e da métrica da sextilha em favor da língua portuguesa.
A Gramática no cordel é um convite leve e alegre ao exercício das regras essenciais dessa língua de Luis de Camões e Machado de Assis. É justamente essa peculiaridade, a fusão de gramática e poesia, que faz desse livro um instrumento didático-pedagógico de muita valia para o estudante e para qualquer pessoa que nutre interesse pelo registro formal desse idioma que aqui aportou coma as naus de Cabral. A Gramática no cordel é um engenhoso serviço prestado à escola de qualquer recanto deste Planeta em que se fale a língua portuguesa.
Parabéns! Tal atitude deve ser saudada como uma declaração de amor ao Brasil, posto o zelo ao idioma mátrio e à cultura popular brasileira. Viva!

Rosenval de Almeida – Colunista convidado desta quinta-feira. Professor de sociologia da Universidade Federal de Campina Grande.


TRECHOS DE GRAMÁTICA NO CORDEL:

Juntei, leitor, neste livro
A arte com a profissão:
No Cordel, pus a Gramática
De Português, uma paixão...
Uma idéia acalentada
Há tempos, realizada,
Isso dá satisfação!

***

Colocar acento em coco
É um erro bem danado!
Principalmente no fim
Se o acento é colocado
Pois ninguém está maluco
De beber “cocô gelado”!

***

Por meio de Genivaldo
Foi que conheci Moisés”
“Meu pai aprendeu a ler
Mediante bons cordéis”
Por meio de, mediante
E não o nome através.

***

A crase antes do verbo
Não há como colocar:
Verbo não aceita artigo
(é por isso que não dá) –
“Com dinheiro a receber,
Tenho contas a pagar”.

É sempre bom perceber no cordel a reinvenção do cotidiano e a resignificação, não só das tradições, mas de toda a produção simbólica nacional. É válido, também, lembrar que já temos até cordel em braile. Viva a gramática no cordel e a poesia popular.

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