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Da vocação de se contar histórias - por Maria Clara dos Anjos


Os primeiros registros que indicam trocas de comunicação entre os homens datam da pré-história - os desenhos de caçadas de animais nas cavernas representavam, tal como hoje, manifestações da fala, do ato de se comunicar. Hoje as diversas manifestações da fala evoluíram e podemos contar não só com os relatos orais como com tudo o que circula no universo da comunicação humana - desde a impressão de livros, jornais, revistas e tv, ao rádio e à Internet. Meios que continuam a manter viva a capacidade de comunicação entre a espécie humana, permitindo a convivência de igual para igual entre os grupos sociais.
Ora, foi com a organização dos grupos sociais que o homem passou a conviver com o contar-ouvir histórias – experiências que compreendem desde os relatos cotidianos da vida de cada um à leitura individual de um livro, ou à leitura partilhada, coletiva. O contar-ouvir histórias se dá, pois, porque desde sempre o homem sentiu a necessidade de dividir com o outro a sua vida, costumes, sonhos e ideais.
O contar-ouvir histórias envolve toda uma complexidade dos envolvidos que passa pelo simples ato de ouvir o outro com ou sem interesse a uma gama de sentimentos como: tristeza, raiva, irritação, bem-estar, medo, alegria e tantos outros que envolve a arte de contar histórias.
Na verdade, em nossos tempos já não se reúnem mais grupos em volta de um livro ou de um bom narrador, o costume de ler é bem mais solitário, individual mesmo, e poucos de nós tem o hábito de comentar com outros sobre o que leu, trocando impressões sobre o livro lido, ou muito menos nos habituamos a ler em voz alta para um ou outro interessado.
Por outro lado, a cultura do livro permanece viva e se produz em grande escala literatura em todo o mundo. A oferta de materiais de leitura é grande, sabemos, mas infelizmente há no mundo um grande número de analfabetos, pessoas que por diversos motivos não tiveram a oportunidade de se encaixar no mundo dos “letrados”.
Acredito que o relato oral, o contar histórias é de grande valia porque dá oportunidade ao outro de enveredar por um mágico e delicioso mundo, caminhando rumo ao desconhecido, mas é também não apenas conhecer um mundo novo como é descobrir-se e redescobrir um mundo de perspectivas.
Nosso grande desafio hoje é manter viva a memória dos grandes contadores de histórias, resgatar estas e propagá-las, mantendo vivo o elo entre passado e presente na escritura do livro da vida da humanidade, fazendo valer aquela velha máxima: quem conta um conto aumenta um ponto. O contar histórias é um hábito tão antigo quanto a própria existência humana - some-se a isso que ao nascer cada homem dá o pontapé inicial na escritura de sua vida e assim sua história passa a ser contada e recontada todos os dias. Portanto, é esse contar-recontar histórias que faz a vida mais bonita e mais possível de ser vivida, pois sempre que houver alguém disposto a narrar uma boa história confirmaremos que contar história fez e sempre fará parte da vida do ser.


Maria Clara dos Anjos, pedagoga, professora do Ensino Fundamental na cidade de Cajazeiras – PB é colunista convidada desta quinta-feira, no Miolo de Pote.

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