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A BESTA DA TARDE














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Era ela ou eu, estatelada justo sobre o elefante vermelho da colcha da sorte, que hoje parecia estanque de possibilidades? Qual das duas virava suco, de saliva de vontades reprimidas, enquanto as lágrimas, fartas de darem o ar da graça, apenas descansavam? Sim, como diz o sábio mestre DeRose ( um ser, um mestre que é sumidade no universo do Yôga, que resgatou corajosamente o Yôga mais antigo, pré-clássico o Swásthya ) “É difícil fazer as coisas parecem fáceis”, mas esse é o único caminho e eu queria ser como ele diz que devíamos ser..”.como águas dos riachos, que tranquilamente, contornam os obstáculos”, mas confesso que gastava aqueles segundos tentando eleger culpados, e preferia que ela, a raiva, confessasse tolher minha generosidade para com certas realidades. Tinhosa como o quê, dona raiva fez de tudo para dividir as responsabilidades daquela tarde histérica comigo.

Eu acabava de abandonar um caso de amor, um projeto artístico, que na partilha de bens ficara com grande parte do meu coração – o meu pai, filho e espírito santo. Era só um tempo, não um rompimento, mais doía igual. O motivo da separação é moda. Incompatibilidade de agendas. Eu tinha que conciliar trabalho, dinheiro e tempo, todos ítens em falta na minha geladeira de mãe e na da minha mãe também. E o projeto, claro tinha que seguir. Tá bom! Eu divido a culpa da relação ter desembocado nessa encruzilhada, mas o que adianta assinar termo de responsabilidade? Sim! eu provavelmente fiz escolhas apressadas na vida e de outras certamente fui refém, mas como despedir-me ou apenas me adiar do encontro com o que me faz pulsar? É isso então que chamam maturidade? Escolher aquilo que não se quer? Pois eu passo. Eu e minha raiva, porque ela só quer expurgar a chutes e pontapés a sua dor de impossibilidades e eu quero dar um jeito qualquer de pagar todo o preço do passaporte para os lugares meus. Nós fugimos de ser apenas uma sobra de ausências, mas naquela tarde de chuva , sem bolinhos de vó, era EXATAMENTE SÓ .........só isso que éramos.

Debaixo da quentura calmante daquele torpor, somente a certeza de ser mais uma entre milhares de operários da arte a sofrer as agruras do ofício salvou-me de ser outra reclamante inútil. Sempre haverá uma semente perdida para alimentar um passarinho que não deixa de voar.....pensei e quis acreditar que assim é, ainda que seja no céu do Brasil, aonde política cultural é quase uma piada sem graça e o mau agouro, que envolve o tema, parece vir de longe – o teatro tupiniquim, por exemplo, nos primeiros tempos foi usado para oprimir os índios na catequese, tendo como principal dramaturgo José de Anchieta- ainda bem que na essência sensorial e mitológica, teatro era um ritual à baco (Deus do vinho) finalidade de origem convenhamos bem mais simpática ....

Apesar de saber que não há limites para o querer, e de sentir o mundo girar sob os meus pés, num movimento perpétuo de renovação- e eu estarei de novo com aquelas gentes e aquela arte do stúdio Fátima Toledo - estou triste pela necessidade de interromper um projeto integrante da minha formação de atriz, parte de uma verdadeira peregrinação na busca pelo conhecimento tão pouco valorizado e geralmente preterido por banalidades mercadológicas. Sempre suspeitei que dar um tempo é perigoso demais em qualquer relação, mas viver é expor-se ao risco, a todos e por outro lado "Amores serão sempre amáveis" Chico Buarque.

Depois, a noite caíu-me como uma luva, clareou as idéias e então ninei minha raiva ao na bela melodia de frejat, que reinventa os ecos de Raul Seixas e as porralouquices mais doces como...”basta ser sincero e desejar profundo/ você é capaz de mudar o mundo....” (aliás raros leitores, peço ajuda porque para ser sincera tenho dúvidas sobre quem compôs tal canção e perdi a capa do CD, além do que não há tempo de pesquisar agora, vou valer-me então da licença subjetiva que este tipo de texto tem, bem ao contrário do jornalismo, no qual estive amarrada por tempo demais creio)


Desperta do pesadelo vespertino, fui tirar o pó do fundo dos olhos, quando de frente ao espelho lembrei de Manoel Bandeira e da sua “ternura dentuça”, que tirou poesia até da tuberculose. Este artista pernambucano arretado completaria 120 anos, não tivesse ido “embora pra Pasárgada” quando tinha 82. Justas homenagens serão prestadas à este talento modernista, que a despeito de todas as adversidades voou alto enquanto declarava sutilezas feito: ........”Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples” (poema Belo Belo) .....ainda pensado em Manuel olhei para as estrelas e mentalizei vários pedidos de enxergar as estradas que levam aos meus caminhos e enfim consolei-me no verso...”mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?”(A morte absoluta)...

Aproveito o tema homenagem para saudar todos os artistas brasileiros, especialmente meus colegas atores e atrizes, grandes mestres inspiradores, que na sina de largarem de si para serem instrumento da coletividade matam suas fomes apenas com a vontade.

* A edição de janeiro da revista Bravo lembra Bandeira e indica lançamentos do aniversário do poeta....vale a pena.....



Carol Montone é jornalista, atriz e colunista do Miolo-de-Pote aos sábados

A canção a que se refere, carol, é do raul seixas e do apulo coelho, famosissima, chamada TENTE OUTRA VEZ. Eu, raro leitor, li seu texto e vi seu pedido. Abraços.

QUIS DIZER, canção é do PAULO COELHO E DO RAUL SEIXAS...

Abandonar um caso de amor, seja pelo tempo que for seja que amor for, é sempre dolorido. Dor que a gente divide com a raiva. Mas o que podemos fazer se não conseguimos alcançar a sabedoria de um DeRose ou se por momentos nos esquecemos de que "amores são sempre amáveis" né?
Texto bonito e cheio de belas referências, Carolzinha. Gostoso de ler e que me levou a querer ouvir meus ídolos! rs...
Querida, obrigada pelo seu carinho, viu? Gosto muito, muito do seu entusiasmo! E sei que esta dor vai passar, pq o tempo, embora às vezes nos pareça inimigo, é sempre o senhor da razão! rs...
Um beijo... não, muitos beijos. Vermelhinhos!!!!

sabe bem passar por aki.
beijos e boa semana

é substancial.
A vida é cheia de reverencias. Ídolos e coisas bonitas. Muitas vezes homenagem significa muito mais.

Belo txto.

:)

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ola carolina ando vendo os seus textos e estou amando todos acho que você devia criar um sit so para você porque é muito dificil te achar aki pelo miolo espero q continue asim

assin: bino

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