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Quase uma paz - Por Pablo Capistrano


Na mitologia de diversos povos existem heróis que morrem e que ressuscitam. Mitra, Dionisus, Cristo. Do mesmo modo também existem bandas que morrem e ressuscitam. O New Order, que se apresenta no Brasil essa semana, é um desses exemplos. Na sua origem ela tinha outro nome, Joy Division (esse é um elemento também da ressurreição, ou mesmo de qualquer processo iniciático: a troca de nomes). Surgida no final dos anos setenta no distrito industrial de Manchester (Noroeste da Inglaterra), o Joy Division canalizou influências dos Stooges e Velvet Underground, para oferecer ao nascente movimento punk um lado denso e sombrio, que iria determinar as regras estéticas nos anos oitenta. Tudo aquilo que se convencionou a chamar de gótico ou pós-punk (do Bauhaus ao Legião Urbana), tem o seu débito com o Joy Division. Mas com dois discos apenas e uma turnê para a América agendada o Joy Division morreu, ou melhor, se suicidou.
Ian Curtis, líder do grupo, vocalista, autor da maioria das letras, epilético, adepto do hábito (pouco recomendado para um epilético) de cheirar cocaína; após uma grave crise conjugal, acabou por se enforcar na cozinha da casa dos pais, ao som de Iggy Pop. O Joy Division estava morto e foi enterrado com seu líder. Mas Peter Hook, Bernad Summer e Stephen Morris, convidaram Gillian Gilbert para os teclados e partiram para a turnê americana, sem Ian. Em 18 de Novembro de 1981 eles se apresentaram em Nova York e o show foi registrado por Taras Shevchenko. No repertório: ansiedades e indefinições. Músicas do Joy, Músicas novas. Ninguém tinha muita certeza se seria Summer ou Hook que arcaria com o ônus de substituir Ian. Quase nada estava claro no primeiro disco pós tragédia. Só uma coisa. Um novo nome, uma nova ordem, uma nova perspectiva estética. O Joy Division morreu, renasceu como New Order e sua trajetória musical carrega uma interessante pedagogia da ressurreição.
Se Ian Curtis compôs um longo bilhete suicida em forma de disco (Closer/ 1980), cheio de um claustrofóbico sentimento de culpa, desespero e ódio auto direcionado; o New Order transitou, do primeiro disco Movement, passando por Power Corruption and Lies, até Brotherhood, por uma estrada que transforma desespero em alegria. Mas o grande ensinamento estético de morte e renascimento está na certeza de que a cura para o desespero passa pela transformação da claustrofóbica sensação de auto-ódio em melancolia. Se você fizer uma linha e postar todos os discos, do Joy ao New Order, em ordem cronológica e ouvi-los em série durante uma noite de Lua nova, vai começar com velas espalhadas na penumbra e terminar em meio a um festival de luzes coloridas. Mas não antes sem passar pela suavidade de luzes azuis e esverdeadas. O ensinamento estético do New Order é que, para você se libertar do desespero é necessário flertar um tempo com a melancolia. É preciso transformar a densa dor que te enlouquece e que te retira todo o ar, num longo estado de tristeza. A tristeza difere fundamentalmente do desespero porque ela é, antes de tudo, um entregar-se e um resignar-se. A melancolia é criativa porque ela te leva a aceitar aquilo que não se pode mudar e, a partir dessa aceitação, ultrapassar a gangorra que te leva do caixão para o palco.
Análises que simplesmente relacionam o New Order ao surgimento da música eletrônica são parciais. Não abarcam o centro nervoso da catarse estética que criou sucessos com “Blue Monday” ou “Love Bizarre Triangle”. Para mim, a melhor música do New Order é “Your Sillent Face” (Power, Corruption & Lies/ 1983). Ela é a linha, o link, a ponte que une as duas caras da moeda dessa banda que morreu e renasceu após o terceiro disco. O Joy deixou uma pista para a cura. Uma porta aberta para a melancolia e para o abandono do desespero, marcada na música “Atmosphere” (1979). O New Order construiu outra porta, nas mesmas medidas, nos mesmos padrões, mas do lado oposto do salão da música pop, em “Your Sillent Face”. Duas formas de melancolia. Dois modos de manter-se vivo. Ouvir New Order é assim. Uma experiência terapêutica. Quase uma paz.
Imagem: http://images.musicclub.it/foto/ia/big/ian_curtis.tif.big.jpg

em 80, maio se não me engano, num fim de festa teve love will tear us apart, depois soube q houvera um livrinho com letras de warsaw, disseram q de meados de 77 e cheiro forte de david bowie, logo a seguir, quase nem deu tempo, pegou a fantasia de rimbaud q todo dia olhava no cabide com olhos de estréia e lá se foi ian pra sua áfrica particular, a nova ordem q se seguiu nos, me, pegou já com a bala na agulha, gatilho a ser espremido

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