« Home | DEMOCRACIA ON LINE – por Pablo Capistrano » | Quero ser salva do Complexo de Cinderela - Por Ca... » | A companhia das coisas - por Adelaide Amorim » | Nunca diga sempre - Por Pablo Capistrano » | Os dois lados da moeda - Por Patrick Gleber » | Doutor da Praça - Por Crys » | Da vocação de se contar histórias - por Maria Clar... » | A mãe de Brecht – por Pablo Capistrano » | Gramática no cordel - Por Rosenval de Almeida » | A eterna novidade – Por Pablo Capistrano »

Sorria sempre... você está sendo filmado - por Carol Montone


Em dias de mau humor conviver é um ato heróico. Imagine sua agenda ainda repleta das pendências das vésperas. Você não conseguiu domar a raiva por ter sempre tanta coisa insuportável para fazer, que lhe vem à cabeça logo ao acordar, momento em que planejou meditar para começar bem o dia. Aí começa uma seqüência desastrosa. Não há tempo de tomar café da manhã. Tem um dia difícil no trabalho, teve que correr no supermercado comprar ração para o cachorro- que estava comendo papinha de pão velho há dois dias – entrou correndo numa farmácia para comprar seu creme de cabelo, que imediatamente descobriu estar em falta, enfim você se danou a manhã inteira e por um triz não iria almoçar também, porque lembrou que tem alguma coisa urgente para fazer às 13h e já são 12h45. Dadas as circunstâncias, você entra no restaurante mais próximo para simplesmente comer, no sentido literal de matar a fome.
Se não estiver apto para encarar as adversidades da convivência recue. Recomendo que, nesses casos, você simplesmente compre algo na padaria, disfarçado com enormes óculos escuros e coma trancado no seu carro, no banheiro da empresa ou em qualquer outro lugar, realmente privativo, que consiga encontrar, se é que ainda existem tais esconderijos. Não é conselho, mas apenas experiência própria. Já insisti muito em correr certos riscos, munida apenas de pensamento positivo e quase acabei uma ermitã, num monte indiano.
Duvido que seu apetite volte, ou que - no caso de você ter se concentrado apenas em seu prato predileto - não terá pelo menos uma queimaçãozinha no estômago de raiva , caso reencontre na fila do self-service seu (a) ex acompanhado (a) em carícias explícitas com outrem. Mesmo que você seja budista agora ou simplesmente tenha mudado de opção sexual e ainda que o garçom te ofereça a nova batata frita 0 calorias é improvável que você perdoe-se por não ter simplesmente engolido algo na companhia solitária daquele relatório, que já devia por sinal estar pronto. O cenário restaurante é propício ainda para vários outros desafios, tipo o encontro casual com tia, que não te vê há uns três anos, para sua sorte , mas hoje vai aproveitar para botar o interrogatório em dia e no final terminar o monólogo comentando que você precisa para de fumar, ou que engordou um pouco desde a “sagrada “ (para você) última vez que se encontraram.Fora aqueles “amigos” que já saíram da sua lista de telefone, do orkut, msn, mas que insistem em achar que ainda são “da família” e claro se oferecem para dividir sua mesa.
Como disse Sartre: o inferno são os outros. Viver em convívio é sempre um risco. Meu pai me ensinou, desde pequena, o princípio básico da lei de Murf : quando estiveres numa situação difícil crestes que coisas piores virão- mas ele me ensinou também que nessas horas a única saída é relaxar e se for necessário acionar o apático simpático que existe em cada um de nós, curtir a batata frita - no caso do self-service - porque afinal uma coisa não tem nada a ver com a outra e prazeres hão de existir sempre, basta concentrar-se.
Brincadeiras à parte sobre as banalidades da convivência, a 27ª Bienal das Artes de São Paulo propõe-se a ser um espaço de discussão do tema que, pela primeira vez na história da mostra, conseguiu unificar os trabalhos em torno de uma mesma inspiração. Conceitualmente talvez tenha funcionado. Questões como a contradição do olhar, o ponto de referência, a descoberta , o encontro estão lá no Ibirapuera. Esteticamente pobre, no entanto, o evento não consegue, paradoxalmente, harmonia. Como mera visitante da mostra, tive a impressão recorrente de que quando o assunto é olhar, sentir, entender e /ou dividir espaço com o outro, o bom humor é a melhor via. A maioria dos trabalhos argentinos e poloneses levaram esse tom de “brincadeira”para Bienal . Imagine uma casa toda de ponta-cabeça, com a mesa no teto e o sofá na parede, ou uma mesa com todos os países do mundo lado a lado dentro de um pão. Torna-se fácil perceber que as fomes humanas são irmãs, a despeito de nacionalidades. Os argentinos encontraram na estética dos protestos, principalmente trabalhistas, uma forma de mostrar sua graça. Muitas outras abordagens saltaram meus olhos na Bienal deste ano: a metáfora das cidades de açúcar, a sutileza encantadora da arte chinesa, algumas exposições fotográficas, entre tantos outros destaques.
Passadas as reflexões profundas sobre convivência mundial, ética, política e outros pensamentos nobres comecei a vagar sobre banalidades de um tempo cada vez mais individual- na Bienal inclusive já havia um balão ( uma bolha, na verdade) de gás hélio, onde dizem ser possível a sobrevivência flutuante de seres vivos como plantas e humanos em geral, quando o caos chegar. A viagem despretensiosa me levou à certeza de que o bom humor é essencial. Entre outros significados literais conviver é viver em familiaridade. Nunca foi e nem é natural viver em comum com a estranheza, que a diferença nos causa. Trata-se apenas do inevitável.

Carol Montone é jornalista, atriz e colunista do Miolo de Pote aos sábados

Imagem: Foto de Pilar Mendes Dias - http://www.1000imagens.com/

Olá, Carol!

Como não podemos sair buscando respostas para tudo na vida, ou para quem qeur que seja, o ideal é deixar seguir o barco. As respostas para tudo, até uma simples chateação na fila do caixa, virão depois...Para iniciar o dia bem, a primeira coisa que faço é tomar meu café, a qualquer hora. Mas, não sou viciado, a não ser em viver, o melhor, se possivel.

Um beijo

É certo Sérgio. Pode ser inclusive que algumas respostas nunca venham. Nossos vícios são determinantes e pela vida vale a pena o risco não é? Obrigada por comentar, volte sempre
Abraços
Carol

....oooO
....(....)... Oooo
.....)../. ...(....)
....(_/.......)../
..............(_/
....oooO
....(....)... Oooo
.....)../. ...(....)
....(_/.......)../
..............(_/
...... Passei por
......... Aqui e desejo uma boa semana
Beijos

Viver com a estranheza alheia é mais fácil, até, que conviver com a nossa, né? rs*

beijos, Carol linda e boa sorte aqui no pote

MM

Ontem li um texto espetacular sobre "Convivência". Agora lendo seu texto, os dois se completam!
Uma excelente proposta de reflexão, minha querida. Tão necessária aos dias de hoje onde o individualismo está presente em todas as relações!
Beijocas, viu? E parabéns à colunista!

Moniquinha
Bom te ver sempre por aqui...que responsabilidade a minha...não nos entregamos a nós mesmos.... então como conhecer aquilo que não se vive não acha? No mais somos todos maluquinhos do mundo...
beijos e saudades
Carol

Dias de mau humor, pra mim, são dias de elaboração de estratégias, para driblar tais situações, mas que pena que nem sempre dá...
Bienal.... Sou totalmente das letras, as vezes que tentei me misturar à Bienal de Arte saí frustrada pela minha total falta de compreensão.... Saio sempre com a sensação da brincadeira, mas enfim....
benvinda e boa sorte, querida!!!
beijos

Tati querida
Que bom receber sua visita....
swásthya yôga certamente é o melhor remédio contra mau humor...(haha) e no mais ...o melhor da vida é a brincadeira mesmo
um super beijo
volte sempre

Postar um comentário